Marfrig e BRF anunciam fusão e criam gigante global de alimentos avaliada em R$ 150 bilhões

Empresas projetam sinergia de mais de R$ 800 milhões e estudam redomiciliação nos EUA

 

A Marfrig, que já detém 50,5% da BRF — dona das marcas Sadia e Perdigão — anunciou a proposta de incorporar integralmente a companhia, consolidando uma das maiores empresas de alimentos do mundo. A nova gigante se chamará MBRF e nasce com receita estimada de R$ 150 bilhões por ano.

 

O anúncio foi feito em fato relevante divulgado na noite desta quinta-feira, 15 de maio. A proposta prevê que cada acionista da BRF receba 0,85 ação da Marfrig por papel que possuir, transformando a BRF em uma subsidiária integral. A união deve resultar em uma plataforma multiproteína com presença global: 43% do faturamento virá da América do Norte, 24% do Brasil e 20% da Ásia e Oriente Médio. O portfólio será composto por 38% de produtos processados, 34% de aves e suínos, e 29% de bovinos.

 

De acordo com as companhias, a fusão pode gerar sinergias de mais de R$ 805 milhões, com aumento de receitas e redução de custos a partir de estratégias como cross-selling e integração logística. Também está prevista uma economia de até R$ 3 bilhões com ajustes fiscais.

 

Para viabilizar a operação, ambas as empresas anunciaram pagamento extraordinário de proventos: até R$ 3,5 bilhões pela BRF e R$ 2,5 bilhões pela Marfrig. A relação de troca considera prêmios de valorização sobre os preços de mercado: cerca de 15% a 20% para a BRF e 38% para a Marfrig.

 

O processo de negociação foi conduzido por comitês independentes, sem envolvimento direto de Marcos Molina, controlador da Marfrig, que detém 72% de suas ações. Com a incorporação, sua participação será diluída para aproximadamente 41%, abrindo mão do controle direto da nova companhia.

 

A proposta será submetida à votação dos acionistas em assembleia no dia 18 de junho. A depender do resultado, a MBRF poderá, futuramente, transferir seu domicílio para os Estados Unidos, com listagem no mercado americano — estratégia semelhante à adotada pela JBS. A medida busca atrair investidores globais e melhorar a avaliação da empresa frente aos concorrentes internacionais.

 

Segundo o CEO da BRF, Miguel Gularte, a listagem nos EUA não foi a motivação da fusão, mas está “no radar” como uma possibilidade concreta. A fusão também representa a retomada de um projeto iniciado em 2019, quando as duas empresas anunciaram a intenção de se unir — plano que acabou abandonado por divergências sobre a estrutura acionária.

 

Atualmente, a ação da BRF acumula queda de 16,8% no ano, com valor de mercado de R$ 34,7 bilhões. Já a Marfrig subiu 20,4% no mesmo período, com market cap de R$ 17,7 bilhões.